segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

« Ela fungou, uma vez, e olhou para ele, com olhos negros esborratados.
- E às vezes entusiasmo-me um bocado, é só isso. Se tu não fosses sempre tão... crítica...
- Sou? Não me parece que seja. Eu tento não ser. Eu só não... - Deteve-se no que ia dizer, abanou a cabeça. - Eu sei que passaste por muito, nos últimos anos, e eu tentei compreender, a sério que sim, com a tua mãe e tudo, mas...
- Continua - disse ele.
- Simplesmente, não me parece que sejas a pessoa que eu conhecia dantes. Já não és meu amigo. É tudo.
A ele não lhe ocorria nada que dizer perante isto, e então, ficaram em silêncio, até que Emma estendeu a mão, agarrou dois dedos da mão dele, apertou-os na palma da mão dela.
- Talvez... talvez tenha chegado a altura - disse ela. - Talvez tenha simplesmente acabado.
- Acabado? O que é que acabou?
- Nós. Tu e eu. A amizade. Há coisas sobre as quais eu necessitava de falar contigo, Dex. Acerca de mim e do Ian. Se és meu amigo, então devo conseguir falar contigo disso, mas não consigo, e se não consigo falar contigo, bem, tu serves para quê? Ou nós?
- "Serves para quê?"
- Tu próprio disseste, as pessoas mudam, não vale a pena estar com sentimentalismos acerca disso. É seguir em frente, encontrar outra pessoa.
- Sim, mas eu não me referia a nós...
- Não, porquê?
- Porque nós somos... nós. Somos o Dex e a Em. Não somos? 
Emma encolheu os ombros.
- Se calhar já não servimos um para o outro.
Dexter nada disse durante um momento, e depois falou.
- Então, achas que tu já não me serves, ou que eu já não te sirvo?
Emma limpou o nariz com as costas da mão.
- Eu acho que tu achas que eu sou... cinzenta. Acho que tu achas que eu dou cabo do gozo todo. Acho que perdeste o interesse em mim.
- Em, eu não acho que tu sejas cinzenta.
- Nem eu! Nem eu! Eu acho que sou maravilhosa como o caraças, se ao menos soubesses, e acho que tu dantes também achavas que sim! Mas se assim não é, ou se simplesmente vais tomar tudo como garantido, então está bem. Eu é que já não estou disposta a ser tratada assim.
- Tratada assim, como?
Ela suspirou e demorou um momento a falar.
- Como se quisesses sempre estar noutro lugar, com outra pessoa.
(...)
Com bravata mal conseguida, Dexter tentou rir-se.
- Parece que estás a acabar comigo!
Emma sorriu tristemente.
- Imagino que esteja, de certa forma. Tu não és quem costumavas ser, Dex. Eu gostava mesmo, mesmo muito do velho Dexter. E gostaria de o ter de volta, mas entretanto, lamento, mas não me parece que me devas continuar a telefonar. - Emma virou-se e, um pouco cambaleante, começou a descer pela rua lateral em direcção a Leicester Square.
(...)
- Então, Em, ainda somos amigos, não somos? Eu sei que tenho andado um bocado esquisito, é apenas porque... - Ela parou por um momento, mas não se virou, e ele soube que ela estava a chorar. - Emma?
Então, muito depressa, ela virou-se, aproximou-se dele, e puxou-lhe a cara para a dela, a face morna e húmida contra  dele, falando-lhe rápido e baixinho ao ouvido, e por um momento radiante ele pensou que ia ser perdoado.
- Dexter, eu amo-te tanto. Tanto, tanto, e provavelmente sempre hei-de amar. - Os lábios dela tocaram-lhe a face. - Só que já não gosto mais de ti. Lamento. »

Em e Dex

3 comentários:

  1. Quando eu finalmente estava a começar a acreditar em mim tiraram-me isso.Não é fácil agora. :/

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  2. gostei tanto deste livro!
    e já agora, gostei do blog também*

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Obrigada :)